Era Nova
(1976, gravada em Refavela, 1977.)
Falam tanto numa nova era
Quase esquecem do eterno é
Só você poder me ouvir agora
Já significa que dá pé
Novo tempo sempre se inaugura
A cada instante que você viver
O que foi já era, e não há era
Por mais nova que possa trazer de volta
O tempo que você perdeu, perdeu, não volta
Embora o mundo, o mundo, dê tanta volta
Embora olhar o mundo cause tanto medo
Ou talvez tanta revolta
A verdade sempre está na hora
Embora você pense que não é
Como seu cabelo cresce agora
Sem que você possa perceber
Os cabelos da eternidade
São mais longos que os tempos de agora
São mais longos que os tempos de outrora
São mais longos que os tempos da era nova
Da nova, nova, nova, nova, nova era
Da era, era, era, era, era nova
Da nova, nova, nova, nova, nova era
Da era, era, era, era, era nova
Que sempre esteve e está pra nascer
Falam tanto
Comentário de Gil: [Em "Era nova", Gilberto Gil sublinha uma crítica à ideia de sempre se querer decretar a disfunção de certos tempos e prescrever a vigência de outros; de se buscar instalar um novo ciclo histórico, um "novo início", seja do ponto de vista religioso ou do político, ideia presente tanto no sonho da Era de Aquário (tematizada mais claramente pela canção) como no sonho revolucionário de esquerda – em todos os messianismos, enfim.]
"Querer uma ''era nova' ou 'o fim da história' [referência à sua música assim intitulada, e que data de 1991] – o começo ou o fim: duas pontas de um mesmo absurdo".
[Ainda segundo Gil, "Era nova", no que é para ele o momento-chave da canção, trata de imperceptibilidade da passagem do tempo, mais exatamente] "da ambiguidade eternamente presente em nós de termos em relação ao tempo uma percepção e uma não-percepção: a de que ele passa quando pensamos e a de que ele não passa quando não pensamos – isto é: 'sem que você possa perceber'."