Andar com fé
(1982, gravada em Um Banda Um, 1982.)
Escolhida por Flor Gil.
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Que a fé tá na mulher
A fé tá na cobra coral
Ô-ô
Num pedaço de pão
A fé tá na maré
Na lâmina de um punhal
Ô-ô
Na luz, na escuridão
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
A fé tá na manhã
A fé tá no anoitecer
Ô-ô
No calor do verão
A fé tá viva e sã
A fé também tá pra morrer
Ô-ô
Triste na solidão
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
Ô-ô
A pé ou de avião
Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Ô-ô
Pelo sim, pelo não
Comentário de Gil: A fé e a 'faia' – "O uso do 'faiá' é assumido com a intenção de legitimar uma forma popular contra a hegemonia do bem-falar das elites. É uma homenagem ao linguajar caipira, ao modo popular mineiro, paulista, baiano – brasileiro, enfim – de falar 'falhar' no interior. É quase como se a frase da canção não pudesse ser verdade se o verbo fosse pronunciado corretamente – o que seria um erro... Outro dia cometeram esse 'deslize' na Bahia, ao utilizarem a expressão na promoção de uma campanha de cinto de segurança. Nos outdoors saiu: 'A fé não costuma falhar' (a propaganda associava o cinto à fitinha do Senhor do Bonfim). Eu deixei, mas achei a correção desnecessária."
[– "Faiá" é coração, "falhar" é cabeça, e fé é coração.]
– "É isso aí. 'A fé não costuma faiá': é pra quem fala assim que ela não costuma 'faiá'."